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Histórias e espiritualidade

As expressões, “Era uma vez” e “Veio a acontecer” e “Foram felizes para sempre” normalmente falam ao coração. São algumas das frases que usamos para contar histórias. Lembro-me de quando era criança tinha uma cópia das Histórias de Fadas de Grimm a que eu afetivamente chamava o meu Livro Azul. Era uma fonte de delícias, não só pelas histórias que tinha, mas também, como depressa aprendi, pelo modo como os diferentes adultos podiam ler a mesma história.

Atualmente, também me delicio contando uma boa história. Hoje, dou-me conta que as histórias que me inspiram, têm habitualmente algum ponto de contacto com um aspecto da vida cristã. Por exemplo, a inspiração para este artigo veio-me de ler uma história de fantasmas do sul, acerca de um cão Labrador que foi a personagem salvadora de um filho que estava a lutar para se reconciliar, na sua própria vida interior, com a parte de extrema e restrita disciplina do seu pai, que tinha sido coronel do exército.

 

Refletindo de modo novo

À medida que nos aproximamos da Primavera e dos mistérios da Quaresma e da Páscoa, sou levada a refletir de modo novo nas histórias que nos são dadas nas Escrituras. Quando eu estava na Faculdade, um professor de Inglês afirmou que a história do Filho Pródigo era talvez a melhor história alguma vez registrada. Não podemos senão imaginar como é que Cristo deve ter contado a história. Pelas Escrituras que Ele tinha um modo especial de contar histórias. Em Lucas aprendemos que quando ia a caminhar com dois discípulos no caminho de Emaús “Ele lhes interpretou todas as Escrituras acerca das coisas que Lhe diziam respeito” (Lc 24, 27). No entanto, eles não O reconheceram senão quando Ele partiu o pão. Escutando-O, os discípulos de Emaús sentiram os corações ardendo, enquanto Ele falava. Que história magnífica!

Às vezes ouvimos as perguntas, “OK., qual é a história?” ou talvez mais exatamente, “Então, qual é a sua história?”. Muitas vezes estas expressões não são afirmações de cumprimento, mas podem recordar-nos qualquer coisa mais profunda. Por exemplo, nós podemos perguntar-nos: “Como é que isto se relaciona com a história de Cristo?”. Certo professor, que era o Diretor do Departamento de Filosofia, encorajava os estudantes a escrever a história das suas vidas. Ao mesmo tempo, encorajava-os a reconhecer que cada um é chamado, a seu modo, a unir a sua vida com o mistério pascal, quer as suas vidas individuais possam ser classificadas como drama, aventura ou até tragédia.

Talvez, as delícias e o maravilhoso que nós encontramos quando somos crianças possa também ser experimentado no reconhecimento da história das nossas vidas. Não precisamos  ser especialmente talentosos, ou dotados com acontecimentos extraordinários para contarmos uma história emocionante. Santa Teresa do Menino Jesus na sua autobiografia limita-se a escrever sobre as mais vulgares lutas humanas, as mais pequenas coisas do dia a dia. No entanto, é claro que ela permitiu a Deus que entrasse nesses encontros de todos os dias. A sua pequenina história, que lhe foi pedido que escrevesse em 1894, continua a atrair um enorme número de pessoas que procuram aprofundar a sua vida espiritual.

 

Graças a Deus pelas coisas pequeninas

Será que a história de Santa Teresinha continua, porque a sua vida se entrelaçou com as histórias sagradas das Escrituras? Neste tempo de computadores, televisões, DVD e vídeos, talvez nós necessitemos de nos ligarmos de novo às nossas próprias histórias, de modo a que as nossas orações possam ser genuínas e concretas e nos possamos deliciar com elas e agradecer a Deus as “coisas pequeninas” que, nas nossas vidas do dia a dia, nos aproximam do sagrado.

No Mosteiro, cada uma tem a sua história particular que narra como foi atraída para a Vida Religiosa. Talvez como Santa Teresa Benedita da Cruz, nós possamos recordar um livro especial ou uma pessoa que nos influenciou profundamente e que teve muito a ver no nosso processo de decisão. Estas histórias são importantes. No entanto, tal como quando era criança  e me deliciava a observar as reações dos diferentes adultos à mesma história, agora dou comigo a deliciar-me ao perceber como as diferentes histórias estão entrelaçadas. Esta partilha das nossas queridas e valiosas histórias podem ter um profundo efeito nos outros. Por exemplo, eu ainda me lembro da época em que a minha mãe me perguntava “Então quem é essa Santa Teresa e o que é que ela fez?”. A um nível mais profundo a questão era: “O que é que atrai o teu coração para escolheres esse modo de vida, em vez de qualquer outro?” Afortunadamente, a história de uma freira espanhola do século XVI era fácil de ligar com a história da vida de Cristo, e nesse nível havia aceitação e compreensão. A fé da minha mãe era o elemento unificador.

Santa Teresa de Jesus, que quando criança gostava de histórias de cavalaria, sublinhava que, como mulheres de oração, também nós somos chamadas a fazer da Encarnação o ponto central das nossas histórias de vida. Pode pôr-se esta ideia por outras palavras: aqueles que partilham a sua história são chamados a viver as suas próprias histórias, primeiro e principalmente no contexto da história de Cristo. A esta luz nós podemos alegrar-nos ao fazermos as nossas humildes contribuições para as histórias de Santa Teresinha e do Carmelo no século XXI.

 

Miriam Hogan, OCD

(Traduzido por Antonieta Vigário)

(in: http://showcase.netins.net)

Fonte: http://www.carmelitas.pt/