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Nos primeiros séculos, a Ascensão do Senhor celebrava-se dentro da grande Cinquentena Pascal, como uma dimensão da própria Páscoa. Mas, a pouco e pouco, a formulação que Lucas oferece deste mistério (Cristo sobe ao Céu, aos quarenta dias: cf. Act 1,3), fez que a recordação festiva da Ascensão se concretizasse de um modo historicizante, precisamente aos quarenta dias da Ressurreição e, portanto, dez dias antes do Pentecostes, e com esta fixação de calendário já referida no séc. IV, quer nos Sermões de Santo Agostinho quer em S. Leão Magno.
O verbo «subir ao céu» (ad-scendere) é, certamente, devedor da particular cosmovisão dos judeus, com referência ao céu, «acima», e a terra, em «baixo», e, portanto, toda a comunicação, de Deus para nós ou de nós para Deus, exprime-se como «descida» ou «subida». Além disso, o mistério de Cristo Ressuscitado pode-se exprimir muito bem como «ascensão», porque significa para Cristo o triunfo, a glorificação à direita do Pai, constituído Juiz do Universo e Senhor da História, exaltação que encontra a sua expressão mais plástica, nas visões do Cordeiro triunfante do Apocalipse e que o NT exprime repetidamente com os verbos «subir» e «ascender». Isto é o que professamos no Credo: «subiu aos Céus e está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso». E isto é o que celebramos na festa litúrgica da Ascensão.
Na missa deste dia, damos graças a Deus porque «o Senhor Jesus Cristo, Rei da glória, vencedor da morte e do pecado, subiu [hoje] ao mais alto dos céus, ante a admiração dos Anjos, e foi constituído mediador entre Deus e os homens, juiz do mundo e Senhor dos senhores» (Prefácio da Ascensão I).
Mas, além do triunfo do Messias, a Ascensão supõe o início da missão por parte da Igreja, assistida por Cristo glorioso e pelo seu Espírito. É o começo do seu caminho missionário desde Jerusalém até aos confins do mundo. Com a garantia que dá o poder celebrar o triunfo de Cristo, Cabeça desta comunidade peregrinante: «porque a ascensão de Cristo, vosso Filho, é a nossa esperança» (Oração Colecta), e porque «subiu aos céus para nos tornar participantes da sua divindade» (Prefácio da Ascensão II).
A transferência da festa da Ascensão, em alguns países, da quinta-feira em que se cumprem os quarenta dias após a Ressurreição, para o Domingo VII da Páscoa, propõe-se como uma ajuda catequética, pois pretende-se sublinhar não a exactidão «histórica», mas a dimensão pascal global do triunfo de Cristo. E o mesmo se deve depreender da norma que estabelece que o Círio Pascal, símbolo de Cristo Ressuscitado, não se apague após o Evangelho da Ascensão, como dantes se fazia, mas que permaneça aceso nas celebrações da comunidade até ao fim da festa do Pentecostes, que é a plenitude dessa Páscoa que dura sete semanas.